quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Trazer à Mafalala um ambiente melhor

A ACAM foi fundada em 2007, por um grupo de jovens católicos do bairro da Mafalala que a partir da Igreja Católica da Munhuana, onde se juntavam todos os domingos, viram a necessidade de criar uma organização a nível da comunidade para intervir para além dos núcleos da Igreja ou seja uma Organização Juvenil Social. “Somos uma Organização Comunitária de Base (OCB), porque sentimos que é uma responsabilidade civil, de nós os jovens, fazer algo para o bem do nosso bairro”, refere Job Mutombene. Foi assim que a ACAM teve a sua primeira Assembleia Geral no dia 12 de Setembro de 2007, e no mesmo dia foi legalizada a Associação tendo também, nesse mesmo dia, sido eleitos os seus membros e corpo directivo. 
O principal objectivo desta Associação é contribuir para melhorar as condições de saneamento e reduzir o nível de delinquência juvenil no bairro através de actividades que ocupem os jovens. Mafalala é um bairro com índices elevados de desemprego de jovens. Outro grande foco desta organização é o de ajudar a melhorar as condições de vida das pessoas carenciadas sem deixar de lado a Educação Cívica das comunidades em relação ao meio ambiente.
 Segundo o nosso entrevistado, no melhoramento das condições de vida, a ACAM dota homens, mulheres e jovens (adolescentes) de habilidades para a vida, para que possam singrar na vida. Há exemplos de senhoras que eram desempregadas e que participaram em cursos de corte e costura promovidos pela ACAM e hoje são monitoras auto remuneradas, produzem serviços e ensinam aos outros criando assim condições para o auto sustento em mais famílias.
 O bairro de Mafalala em 2011 beneficiou-se através de um apoio da WSUP (Water and Sanaitation for Urban Poor) à AdeM, de uma extensão da rede terciária de abastecimento de água mas, devido a um problema de falta de água no centro distribuidor que abastece este bairro, o bairro, mesmo com a extensão da rede, continuava a enfrentar sérios problemas de falta de água. Muitas famílias percorriam longas distâncias dentro do bairro para ir buscar água. Isso fez com que a AdeM procurasse soluções para este problema.
Após a conclusão do projecto “Maputo Water Supply” a capacidade de abastecimento de água ao bairro melhorou significativamente, mas em vez de resolver o problema, assistiu-se a um bairro inundado pela água que saía dos tubos a tal ponto que chegou a ser chamado “Rio Mafalala”. Por todos os lados do bairro havia fugas e perdas de água, os tubos de água subterrâneos jorravam água por todos os cantos do bairro. Esta situação desesperava os moradores porque, com toda esta água a jorrar pelo chão, eles ainda continuavam com problemas de falta de água nas suas torneiras. Para sair dessa situação, as pessoas começaram a cortar os tubos para tirar água e era normal ver filas enormes de mulheres e crianças à espera de tirar água dos tubos cortados ao longo do bairro. Pareciam filas para fontanários públicos mas tratava-se de “fontanários de tubos cortados”.

Quando começámos com a implementação do Projecto de Geo-referenciamento, projecto que teve o financiamento do “The Coca-Cola African Foundation (TCCAF)” tendo a implementação sido feita numa parceria entre a AdeM e a WSUP com a contratação da ACAM para o trabalho comunitário,  consistindo este projecto na identificação de fugas e levantamento dos clientes da AdeM, as pessoas não acreditavam que ia dar certo. Muitas pessoas chegaram até a dizer que preferiam ir buscar água no vizinho ou nos tubos do que esperar pela solução daquele problema. Já não tinham esperança que o seu bairro pudesse recuperar a sua beleza e acima de tudo de ter a água disponível nas suas casas.
Os activistas, em coordenação com a WSUP e a AdeM, iam fazendo o levantamento em equipa porta a porta enquanto marcavam os locais com fugas de água usando o Smartphone e o GPS identificando-as desta forma. Estes, tinham que atravessar charcos de água, “lagoas” e tubos cortados para fazerem o seu trabalho. Após a identificação, os activistas tinham que informar a AdeM para ir resolver o problema. Felizmente a AdeM dava uma resposta rápida na resolução do problema o que contribuiu em grande parte para o sucesso desta actividade.
 Assim, em pouco tempo o bairro da Mafalala deixou de ter lagoas e tubos cortados dando espaço para um bairro seco sem problemas de água pois uma das soluções para este problema foi fazer transferências para os tubos novos e eliminar os tubos cortados.
Um dos aspectos positivos deste trabalho foi o facto de que ajudou a legalizar muitas situações de ligações ilegais, e promoveu novas ligações domiciliárias (uma vez que os activistas foram munidos de conhecimentos para transmitir às comunidades sobre os requisitos necessários para se fazer novas ligações). Também melhorou a pressão da água que chega ao consumidor e a qualidade da mesma através de transferências feitas para a nova tubagem. Para além de arranjar novos clientes para a AdeM também serviu para identificar, na comunidade, potenciais beneficiários para o projecto de Saneamento, Community Led Total Sanitation (CLTS) que está a ser implementado pela WSUP no bairro da Mafalala.
Para a ACAM esta actividade ajudou a melhorar habilidades da sua intervenção usando o smartphone. Foi uma experiência nova, que não é manipulável como os inquéritos escritos. Também aprendemos a usar o GPS. Este foi um método de trabalho que vai ser benéfico para futuros trabalhos e levantamentos de base no bairro da Mafalala e não só, concluiu Job Mutombene no final desta partilha sobre a sua experiência e o papel que a ACAM tem no bairro da Mafalala.